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Sonhos

Eis que a preocupação com o peso nessa época de isolamento social vem me assombrar em meio ao descanso noturno.

Redação
Por: Redação
04/05/2020 às 07h45 Atualizada em 04/05/2020 às 07h52
Sonhos
Foto: Reprodução internet

Sonhei que estava mais magra, porém, de repente, não mais. E tinha apenas 11 dias para perder os quilos em excesso para caber em um vestido de festa. Lembrando do sonho, sorrio. Eis que a preocupação com o peso nessa época de isolamento social vem me assombrar em meio ao descanso noturno. Sem fazer atividade física em casa por conta de uma lesão no pé e comendo um pouco além da conta, dá pra imaginar a briga que tenho travado com a balança. Agora tenho de brigar com ela até em sonho!

Não sei qual era a ocasião, mas, no sonho, todos da minha família estavam trabalhando para essa festa: fazendo docinhos, comida, roupa, limpeza do local e eu, como competia à anfitriã (até agora não sei o motivo da festa) fazia as unhas com um esmalte que estava quase no fim e ainda por cima endurecido. Dá pra imaginar a dificuldade que foi fazer as unhas com esmalte nesse estado. Mas interessante que mesmo se tratando de sonho eu estava usando a cor nude, a cor que mais gosto para pintar as unhas. E, pensando agora sobre a unha, ela me parece uma preocupação banal em meio à pandemia, tanto que minhas unhas não veem esmalte há mais de um mês. Algo semelhante às sobrancelhas que, ontem, diante do espelho, percebi estarem parecendo uma floresta. Será por isso que em meu sonho eu estava um pouco mais vaidosa? Sim, porque aqui em casa, não tá rolando nada de vaidade.

Em dado momento, uma amiga aparecia no sonho. Acho que vendendo os óleos essenciais que ela comercializa e que agora são sua marca registrada. O cenário mudou em um estalar de dedos – coisas que só acontecem em sonho - e a gente, então, se via na nossa juventude, antes de trabalho, maridos, filhos e problemas da vida adulta. Nem preciso falar do sentimento de nostalgia que me invadiu. E também preocupação. Sem emprego e em meio à pandemia, ela tem se desdobrado na venda dos óleos essenciais. Área bem diferente, porém não menos importante, daquela na qual se formou.

Me vi depois no pós-festa, com vontade de viajar por um período para ver minha filha. Estamos separadas durante esse período de isolamento social, mas daí surge no sonho uma amiga que trabalha no administrativo da Ufam, lembrando que as aulas estavam para reiniciar e eu tinha um prazo para regressar ao trabalho em Parintins. No sonho eu não viajava e nem voltava ao trabalho, e não vou me surpreender se ambos realmente não se concretizarem tão cedo.

De volta a Parintins (de onde nem saí nesse isolamento) enfrentávamos uma ameaça. No sonho não era a pandemia. Eu me sentia ameaçada pelas pessoas, como se elas quisessem nos machucar e, para nos protegermos, nos escondíamos no subsolo. E, em meio a essa situação, eu fazia bolo de chocolate e brownies e os distribuía às escondidas aos colegas de trabalho da Ufam. Alguns bolos ficavam ótimos, outros nem tanto. Já desperta do sonho, lembrei do bolo de cenoura que fiz essa semana, pela primeira vez, e que foi um fiasco... Mas, claro, não me dei por vencida e fiz outro um dia depois. Ficou melhor. Há esperança para mim!

Acho que os doces representam em sonho o que representam na minha vida – e que muitas vezes não me dou conta – são uma tábua de salvação para os meus momentos de ansiedade, especialmente agora durante o isolamento social no qual nos encontramos. Quem me conhece sabe que sou a louca do chocolate, com o apetite regulado apenas pelo colesterol alto e consequentemente o medo de um AVC. Mas tenho me controlado e cada doce que faço em casa compartilho com vizinhos e amigos. E quem diria: compartilhar – quando antes eu comeria tudo sozinha – tem estreitado os laços, fortalecido as amizades e aquecido o coração.

 

Acordei... acreditem, os sonhos duraram bem mais do que essas linhas de texto. Mas ao finalizar o registro deles – algo que tenho feito diariamente como exercício para aprimorar minha escrita – percebi os medos, preocupações e acontecimentos do dia a dia em meus sonhos. Nossa mente não nos dá trégua. Ainda que durante os sonhos amenize a sobrecarga, ela está lá para não nos deixar esquecer dos nossos medos e preocupações. O que fazer então? Talvez comer um bom pedaço de brownie... ou, quem sabe um cookie?

 

Professora Doutora Graciene Siqueira 

Graciene Silva de Siqueira

Graciene Silva de Siqueira é professora do curso de jornalismo da Universidade Federal do Amazonas em Parintins desde 2009. Possui mestrado em Ciências da Comunicação (UFAM/Manaus) e doutorado em Letras (Mackenzie/SP). Trabalhou onze anos em redações de jornais como A Crítica, A Notícia, Diário do Amazonas e O Estado do Amazonas, nas funções de repórter, colunista e editora.

Apaixonou-se por filmes quando trabalhou em uma videolocadora nos anos 1980. Escreveu roteiro de curtas-metragens premiados no Amazonas, como Telefone sem fio, Além da vida e Sonhos, e outros exibidos em festivais, como Mormaço e Próximo ponto. Pesquisa e coordena projetos relacionados à Sétima Arte na Ufam. Em seus planos estão escrever o roteiro de um longa-metragem e um livro de crônicas.

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