Por Paulo André Nunes | Pawé
O dia da visibilidade trans é comemorado no dia 29, mas todo é dia de empoderamento e ser feliz. E ontem, 21 de janeiro, foi um dia especial para o fotojornalista e designer parintinense Glen Dinely da Silva, 23, homem trans que teve finalmente, oficializado no cartório do Primeiro Ofício de Parintins (a 325 quilômetros de Manaus) o seu nome masculino.
Nascido Glenda Dinely da Silva, ele decidiu mudar de nome e gênero por uma vontade que já vinha há anos até ser chegar a hora da transição.
“E a partir de 2017 comecei a cortar o cabelo mais curto, meio channel, e depois passei a usar o corte de cabelo que chamam de ‘Mauricinho’, que é mais masculino. A partir desse momento passei a me identificar mais com roupas masculinas e mantive o corte masculino. Mas pra mim aquilo não era suficiente. E a partir de 2020 me senti muito incomodado e falei para os meus pais que a minha maior vontade era ter barba. E comecei os procedimentos com minoxidil e vieram os primeiros resultados, com os pelos do bigode e na parte lateral do rosto, os primeiros fios. Mas não havia feito o procedimento com testosterona, já que preciso de um acompanhamento médico e isso pode ser feito futuramente. E vendo essas mudanças vi que não teria mais condições de manter o nome Glenda e com o gênero feminino porque seria uma realidade que não ia constatar com o meu documento e eu tendo barba. Foi mais uma questão que eu fui falar com meus pais sobre a minha certidão. E eu precisava comprovar juridicamente para a sociedade, mesmo que eu não precise dar explicações para el, mas em relação a futuros trabalhos eu preciso provar que a minha aparência ela é baseada na minha certidão masculina e de nome atual Glen Dinely”, explica ele.
Glen diz não ver nenhum problema em que as pessoas a continuem chamando de Glenda, amiga ou de mana, como era tratada por quem o conhecia. “Mas também não tem problema se as pessoas me chamarem de mano, ou de amigo. Eu fico muito tranquilo em relação a isso. A questão da mudança foi mais de comprovação que a minha aparência é comprovada em documento masculino e com esse atual nome”, explica Glen.
Ele frisa que até o momento não sofreu qualquer discriminação, mas provavelmente terá muita coisa a enfrentar e a sociedade está se adequando a isso agora, para eles é muito radical “Muito pelo contrário: as pessoas estão felizes junto comigo, tem apoiado minha nova conquista. Mas tudo isso é um processo e eu não tiro a razão de nenhum, mas respeito as pessoas porque eu quero respeito”, contou.
FAMÍLIA
Em relação à família, ela disse que seus pais são cristãos evangélicos – a maior parte da minha família é evangélica – e o que prevalece é o respeito e o amor.
“Creio que minha mãe sofreu bastante discriminação por parte de pessoas que vinham falar com ela para que conversasse comigo para mudar meu pensamento. Só que desde o primeiro momento que eu decidi me abrir para os meus pais dizer quem realmente eu sou, e sempre quis ser, eles respeitaram a minha decisão, claro que os pais não concordam por serem cristão, mas acima de tudo o que prevalece é o respeito e o amor, e isso é uma dádiva que eu tenho por ter esses meus pais. E a minha irmã também, que sempre me respeitou, ela me apoiou. Também tive apoio da minha prima, que é uma mulher trans e que também passou por todo esse processo de retificação, e por cirurgia. Ai eu me senti mais forte para dar os primeiros passos na minha transição. Só tenho a agradecer pela família que eu tenho”.
O fotógrafo diz que teve o apoio da namorada na decisão de retificar o nome para o gênero masculino e que a mesma lhe conheceu mulher, acompanha as transições e apoia a vontade de tirar os seios futuramente.
CONSELHO
Ele deixa um conselho para quem tem vontade de retificar o nome: seja feliz. “Minha prima sempre me disse que nós temos que ser felizes por nós mesmos, porque se a gente for querer agradar as outras pessoas nunca vamos conseguir ser o que a gente sempre sonhava. As pessoas que estão nesse processo e têm problemas com os pais nessas relações de se assumirem homens trans e realizarem todo esse processo têm que procurar a própria felicidade porque ninguém mais vai proporcionar isso. Só temos uma vida e temos que buscar isso. Sempre me retraí às minhas escolhas porque iria magoar meus pais. Vivia pra eles, mas não vivia pra mim. Nunca devemos deixar de ser felizes. É um processo complicado e longo mas temos que ter paciência e perseverança”, orienta ele.
FELICIDADE
“Explicar no que se baseia a dignidade da pessoa é tarefa difícil, mas é certo que a felicidade é desejo de todo ser humano. Para o transexual, a felicidade está estreitamente ligada ao ajuste da sua realidade psíquica com a biológica. Negar isso seria ignorar a realidade psicológica do indivíduo e condená-lo à infelicidade dentro de um corpo que não reconhece como seu. Por exemplo, para uma pessoa que na verdade se sente do sexo masculino, manter o nome feminino nos documentos, dificulta sua inserção social, fazendo com que possa vira passar por situações constrangedoras”, relata o site https://direitofamiliar.jusbrasil.com.br/ ao falar sobre retificação de nomes.
Sabe-se que, de acordo com a Lei de Registros Publicos, continua a publicação, “é permitida a alteração de nome em casos que ele acaba por expor a pessoa ao ridículo, e, portanto, a lei permite essa mutabilidade para garantir a dignidade dos cidadãos”.
O site especializado em jurisdição cita como exemplo a personagem Ivana, da novela “A Força do Querer”, da Rede Globo, exibida pela primeira vez em 2017 e que está sendo reprisada atualmente por conta da pandemia do Covid-19: ela se identifica com o gênero masculino, vestia-se como tal e fez, inclusive, tratamento hormonal a fim de adquirir características masculinas. No desfecho da telelágrima, ela assumirá ser um homem trans e trocará seu nome para Ivan.
“Ora, por que não adequar seu nome à sua real identificação? Assim, Ivana passará a ser reconhecida como Ivan. A retificação do nome no registro civil, visando adequar sua identificação à sua verdadeira identidade, influirá de forma decisiva na efetivação de sua cidadania e dignidade, evitando situações vexatórias”, completa o Direito Familiar.
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